Desdobramento da investigação mira núcleo financeiro de esquema de tráfico; doleiro de São Paulo é o principal alvo
A Polícia Federal deflagrou nesta quinta-feira, 16, a segunda fase da Operação Mafiusi, que investiga elos do Primeiro Comando da Capital (PCC) com as máfias italiana e albanesa. Três pessoas foram presas preventivamente.
Os policiais federais também fizeram buscas em 12 endereços em Curitiba, Maringá, São Paulo, Santana de Parnaíba, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul, Ribeirão Pires, Peruíbe e Jardinópolis. Foram apreendidos carros de luxo, incluindo uma Ferrari, relógios, armas e dinheiro.
Novas pessoas físicas e jurídicas foram implicadas no inquérito a partir da análise do material apreendido na primeira fase, deflagrada em dezembro de 2024.
Os presos nesta quinta são Maicon Adriano Vieira Maia, Klaus Cristhian Volker e Filippe Rocha de Oliveira, apontados como operadores financeiros do esquema. O Estadão busca contato com as defesas.A Polícia Federal mira, nesta nova etapa, o núcleo financeiro do esquema. Segundo os investigadores, esse grupo é responsável pela contabilidade e lavagem do dinheiro do tráfico internacional de drogas.
Os investigadores afirmam que há um esquema estruturado de movimentação de dinheiro em espécie, transações de câmbio paralelo (dólar-cabo), uso sistemático de fintechs e empresas de fachada para movimentar recursos do crime.
A PF apreendeu diversos documentos falsos que, de acordo com a investigação, foram usados para simular a origem do dinheiro, como notas fiscais frias de locação de veículos e máquinas.
O delegado Eduardo Verza, que coordena a operação, explicou que uma movimentação de recursos muito expressiva chamou a atenção.
“Constatamos uma maior amplitude de atuação, alguns integrantes já identificados e outros que vieram a ser identificados na análise do material apreendido. E uma movimentação de recursos muito intensa, expressiva, recursos em espécie, metodologias variadas”, informou o delegado.
A operação foi autorizada pelo juiz Nivaldo Brunoni, da 23.ª Vara Federal de Curitiba, que decretou o bloqueio de R$ 13,8 milhões dos investigados.
Núcleo financeiro
Klaus Cristhian Volker já havia sido alvo da primeira fase da Operação Mafiusi. O celular dele foi apreendido na ocasião. As conversas encontradas no aparelho ampliaram as suspeitas da Polícia Federal. Ao pedir a prisão, os investigadores afirmaram que ele usou duas empresas de locação de veículos, a Starway e a Starfleet, para emitir notas frias usadas na lavagem do dinheiro do tráfico. Filippe Rocha de Oliveira seria seu comparsa.
“Ambos se utilizam da atividade de revenda de veículos para movimentar recursos de procedência ilícita, ou ambos duvidosa, bem como promovem a lavagem de dinheiro utilizando-se de metodologias variadas, como, por exemplo, o subfaturamento dos valores declarados na operação comercial, emissão de notas fiscais frias, operações dólar-cabo, câmbio paralelo, transações com dinheiro em espécie, entre outras”, escreveu a PF na representação pelas prisões.
O terceiro preso nesta quinta é o ex-policial militar Maicon Adriano Vieira Maia, que atuaria como doleiro em São Paulo. Ele deixou a corporação em novembro de 2023, mas segundo a investigação começou a operar o esquema de dólar-cabo quando ainda estava na Polícia Militar.
O ex-policial é apontado como dono da RMD Instituição de Pagamento Ltda que, de acordo com a PF, “não só está inserida dentro do esquema de lavagem de dinheiro do tráfico internacional que está sendo investigado na Operação Mafiusi, como também vem sendo utilizada para operacionalizar a movimentação de dinheiro ilícito em larga escala”.
“Tudo indica que a RMD Instituição de Pagamento Ltda seja uma das fintechs atualmente à serviço do crime organizado”, destaca a Polícia Federal na investigação.
Um dos endereços onde a PF fez buscas, em Peruíbe, no litoral Sul paulista, pertence a Rodrigo Bortolo Conti. Ele é apontado como laranja em uma distribuidora de combustíveis. O Estadão busca contato com a defesa.
Compra de clube de futebol
Com o avanço da Mafiusi, a Polícia Federal encontrou “fortes indícios” de que o dinheiro do tráfico foi usado na compra de um time de futebol pelo grupo do empresário Willian Barile Agati, o “Concierge do PCC”, denunciado como chefe do esquema de tráfico de drogas via o porto de Paranaguá, no Paraná.
As suspeitas surgiram a partir de conversas obtidas pela PF. Os investigadores tiveram acesso a diálogos do Sky ECC e do Signal, aplicativos de mensagens criptografadas.
COM A PALAVRA, OS CITADOS
A reportagem busca contato com as defesas. O espaço está aberto para manifestação (rayssa.motta@estadao.com; fausto.macedo@estadao.com).
COM A PALAVRA, O ADVOGADO EDUARDO MAURÍCIO, QUE REPRESENTA WILLIAN AGATTI
“Willian Barile Agatti (e nenhuma de suas empresas) foram alvo de busca e apreensão e muito menos de mandado de prisão preventiva, já que não possui nenhuma relação com as pessoas e empresas alvo da Operação Mafiusi (fase 2).
E, no tocante à Operação Mafiusi (fase 1), Agatti é alvo de perseguição e comprovará na instrução processual sua inocência, e espera decisão do STJ nos autos do Habeas Corpus que requer a revogação de sua prisão preventiva em pleiteará diversas nulidades insanáveis em momento oportuno.”