Um dos suspeitos de burlar centenas de brasileiros a partir de um escritório em Portugal foi extraditado esta semana para “prestar contas” à Justiça do seu país. É o primeiro dos seis detidos a ser enviado para o Brasil. Detenções ocorreram há dez meses.
avião da TAP aterrou na última quinta-feira no Aeroporto Juscelino Kubitschek, em Brasília, e a escada que dá acesso à cabine do aparelho foi imediatamente encostada. À porta, dois polícias esperavam por um passageiro em particular: Eduardo Omeltech, mestre de reiki e um dos lobos de Wall Street que a partir de Lisboa montaram um esquema de “falso day trade” — delineado para enganar investidores que julgavam estar a investir em empresas como a Coca-Cola ou a Microsoft, mas, na verdade, encheram as contas bancárias de um grupo criminoso inspirado na personagem principal do filme de Scorsese, ”O Lobo de Wall Steet”, que durou quatro anos e enganou mais de 945 pessoas no Brasil.
Bem vindo. Vai acertar contas com a justiça brasileira e com todas as vítimas que o senhor fez aqui no Brasil”, diz o delegado Erick Sallum a um conformado Eduardo num vídeo a que o Expresso treve acesso. O suspeito tinha sido detido em Portugal em março de 2023 e foi o primeiro lobo brasileiro a ser extraditado. Há mais dois em Portugal que deverão ser extraditados em breve.
Segundo documentos judiciais a que o Expresso teve acesso, Eduardo tinha uma empresa em Portugal por onde terão entrado cerca de 2,45 milhões de eurosque foram parar às contas de David Souckup, um cidadão checo que seria o líder do grupo que foi desmantelado a partir do Brasil pela Polícia civil.
De acordo com a investigação policial, o bando em Portugal era liderado por um rapper angolano, conhecido como Pluto, que se entregou à polícia na República Checa e aguarda a extradição para o Brasil. Souckup foi detido na Alemanha e também ainda não foi extraditado. Em Portugal houve seis detenções.
Um elemento do grupo que decidiu colaborar com as autoridades explicou que Eduardo era um dos principais destinatários do dinheiro angariado junto dos clientes, que era depois transferido para contas bancárias controladas por David Sokup e mais tarde convertido em criptomoeda. Só uma pequena parte do dinheiro investido foi recuperado pelas autoridades.
Eduardo Maurício, advogado de Omenech, confirma a extradição e garante que o seu cliente “não praticou nenhum dos crimes que lhe são imputados e nenhum golpe ou fraude envolvendo transações internacionais com criptomoedas”, e que “apenas era um prestador de serviços da empresa Pineal Marketing, com atividade expressa, certa e determinada de serviços de consultoria”. O advogado vai entrar com um pedido de habeas corpus no Supremo Tribunal de Justiça para tentar anular a extradição.
Eduardo Omenech tem 29 anos e, à primeira vista, nada o diferenciava de um passageiro comum em trânsito para o Brasil. Saiu do avião de mochila às costas e não foi algemado pelos polícias que o esperavam e que o levaram para a cadeia da Papuda.
Segundo a mesma testemunha, Eduardo “tinha um profundo conhecimento” do que acontecia na Pineal, a empresa de fachada para o golpe que chegou a ter quatro escritórios em Portugal, incluindo na zona das Amoreiras, uma das mais caras da capital.
Dos seis detidos em Portugal, três têm nacionalidade brasileira e deverão ser todos extraditados. Os outros têm dupla nacionalidade e opuseram-se à extradição.
No vídeo a que o Expresso teve acesso, o delegado Sallum admite “o prazer” e a “a satisfação” por conseguir a extradição de “um dos criminosos”. “Não conseguimos recuperar todos os ativos desviados das milhares de vítimas espalhadas por todo o Brasil, mas que pelo menos elas possam ter um pouco de paz e a satisfação de que algo foi feito. Os responsáveis não saíram ilesos.”
Segundo o polícia, a quadrilha “foi desarticulada” e todos os membros “detidos”.
Um antigo operacional do grupo que falou ao Expresso descreveu um “ambiente tóxico” que tentava copiar o que foi criado por Jordan Belfort e recriado na fita protagonizada por Leonardo DiCaprio. Mas ao contrário do especulador americano que comprava e vendia ações verdadeiras mas escondia os prejuízos, os lobos de Lisboa nunca compraram uma única ação. O negócio era a burla.
Segundo uma fonte policial, o grupo convencia os clientes a fazer o download de uma aplicação de investimentos que era real, mas gerida pela organização. O dinheiro transferido nunca era realmente investido no mercado. “Era como se fosse um jogo de computador. O cliente via a sua carteira de investimentos a subir e a descer, mas era tudo fictício porque nem um centavo era investido”, explica a fonte.
Eduardo MaurIcio é advogado no Brasil, em Portugal, na Hungria e na Espanha. Doutorando em Direito – Estado de Derecho y Governanza Global (Justiça, sistema penal y criminologia), pela Universidad D Salamanca – Espanha. Mestre em direito – ciências jurídico criminais, pela Universidade de Coimbra/Portugal. Pós-graduado pela Católica – Faculdade de Direito – Escola de Lisboa em Ciências Jurídicas. Pós-graduado em Direito penal econômico europeu; em Direito das Contraordenações e em Direito Penal e Compliance, todas pela Universidade de Coimbra/Portugal. Pós-graduado pela PUC-RS em Direito Penal e Criminologia. Pós-graduando pela EBRADI em Direito Penal e Processo Penal. Pós-graduado pela CBF (Confederação Brasileira de Futebol) Academy Brasil –em formação para intermediários de futebol. Mentor em Habeas Corpus. Presidente da Comissão Estadual de Direito Penal Internacional da Associação Brasileira de Advogados Criminalistas (Abracrim). Site: www.eduardomauricioadvocacia.com